sexta-feira, 20 de junho de 2008

Marcos Bicudo - Diretor da Mexichem e Presidente da Amanco Brasil

São Paulo, 11 de junho de 2008 - Após várias aquisições nos últimos dois anos, o grupo mexicano especializado em química e petroquímica Mexichem, prepara a reestruturação dos negócios. As áreas agrícola e de geotêxteis terão operações independentes, informou o diretor da Mexichem e presidente da Amanco Brasil, Marcos Bicudo.

Entrevista concedida às repórteres Juliana Elias e Rita Karam

São Paulo, 11 de junho de 2008 - Após várias aquisições nos últimos dois anos, o grupo mexicano especializado em química e petroquímica Mexichem, prepara a reestruturação dos negócios. As áreas agrícola e de geotêxteis terão operações independentes, informou o diretor da Mexichem e presidente da Amanco Brasil, Marcos Bicudo. As operações do grupo na área agrícola — que atendem, entre outros, projetos de irrigação — serão reunidas na Mexichem Soluções Agrícolas (MSA), e a Mexichem Geotêxteis, incorpora a mais recente aquisição no Brasil, a Fiberweb Bidim.

A fabricante de produtos em não-tecido que atende também o setor calçadista, deixará essa operação para se concentrar nos geotêxteis, contou Bicudo nesta entrevista exclusiva para a Gazeta Mercantil. Os dois negócios devem ter este ano cerca de 2% do faturamento do grupo cada um. Em 2007 o Mexichem teve receitas de US$ 2,35 bilhões. Desse total, a Amanco respondeu por US$1,2 bilhão.

Com a separação, cada negócio poderá ganhar maior agilidade no desenvolvimento, enquanto a Amanco se especializa na produção de tubos e conexões. Nesse ramo, se coloca o desafio de alcançar a liderança do mercado brasileiro. No Brasil a expectativa é de que a Amanco cresça 25% este ano sobre os US$ 340 milhões de 2007.

Gazeta Mercantil - A Mexichem comprou a Fiberweb Bidim, no Brasil, em maio último. Qual a estratégia para a companhia?

Marcos Bicudo - A Bidim é a empresa líder na América do Sul em aplicações geotêxteis (mantas contínuas de fibras ou filamentos com diversos usos, entre eles como filtro que permite a passagem de água e impede a de sólidos) usadas em infra-estrutura, drenagem e impermeabilização. Além disso, seus produtos de não-tecidos atendem também a indústria calçadista. Vamos sair do setor calçadista e focar nos geotêxteis. A Amanco já atuava nesta área na Colômbia. A aquisição faz parte da filosofia de liderança na América Latina. Na realidade, estamos criando três unidades de negócio dentro do grupo. Uma delas seria essa divisão de geotêxtil e a outra a agrícola que são soluções para irrigação, e a parte de tubos e conexões para condução de fluídos. A área agrícola já tínhamos no Brasil. Geotêxtil é a primeira vez, mas o gerenciamento dessa unidade vai ficar na Colômbia. E a Amanco vai separar a parte agrícola, em que atuava, para se especializar em tubos e conexões. Para isso, será criada a Mexichem Soluções Agrícolas (MSA), que responderá ao mesmo diretor da Mexichem.

GZM - Quando a nova empresa começa a atuar?

Marcos Bicudo - No caso do Brasil, em 1º de agosto. O responsável pela divisão está na Argentina, onde deverá ser estabelecida a base. A Mexichem adquiriu lá a Dripsa, em janeiro, que passou a centralizar a MSA. Temos também operação no Chile, desde abril. No Brasil só não estamos operando ainda, basicamente, por burocracia.

GZM - O negócio agrícola representa quanto da receita da Amanco hoje?

Marcos Bicudo - Da Amanco Brasil é 11%. Em 2008, a MSA Latino-américa responderá por 6% das vendas de todo grupo Amanco e 2% de todo grupo Mexichem. A expectativa da MSA é encerrar o ano com faturamento de US$ 70 milhões.

GZM - Quanto vocês têm do mercado de irrigação?

Marcos Bicudo - No Brasil, 32%. E deve crescer com essas mudanças.

GZM - E como ficará a operação de geotêxteis?

Marcos Bicudo - Compramos aqui da Bidim, e a Amanco já tinha operação na Colômbia, que chamava Amanco Geotêxteis. Mas o nome deve mudar, porque vai passar para a Mexichem.

GZM - Qual o valor dessa operação?

Marcos Bicudo - Não temos esse número porque é uma operação que não tinha aqui, mas a Bidim faturava o equivalente a US$ 30 milhões. A Colômbia cerca de US$ 20 milhões. É um mercado com tendência de crescimento. Infra-estrutura em países em desenvolvimento é uma oportunidade, desde o México até Venezuela e Peru. Com a operação no Brasil e na Colômbia, podemos também exportar.

GZM - O grupo Mexichem fez diversas aquisições nos últimos anos, Qual é a meta?

Marcos Bicudo - O Mexichem é muito arrojado. Sua base histórica está na indústria petroquímica. É o maior produtor de resina de PVC da América Latina. Tem uma capacidade de um milhão de toneladas ao ano. Faz desde a produção de cloro e soda (matérias-primas para resina de PVC). Quando adquiriu a Amanco, quis verticalizar sua cadeia, com a principal aplicação do PVC, que são tubos e conexões e respondem por 50% de toda a resina de PVC consumida. A estratégia é dominar não só a produção da resina, mas também da principal aplicação. Além do grupo Amanco, a Mexichem adquiriu também a Petco (Petroquímica Colombiana), para assegurar esse domínio. Estrategicamente, era importante uma presença física nesse setor, na Colômbia, porque a resina não pode viajar muito. Hoje, os grandes pólos produtivos do grupo são México, Colômbia e Brasil.

GZM - Qual a estratégia para a Amanco Brasil?

Marcos Bicudo - O Brasil, que é o maior mercado latino-americano, é talvez o único país onde a Amanco não possui a liderança. O País representa 30% dos negócios do grupo Amanco, tem o maior volume de vendas e rentabilidade. É a prioridade número um da Amanco e da Mexichem, e tem sido privilegiado em investimentos pelo grupo.

GZM - Há planos para abastecer o grupo com produção própria de resina?

Marcos Bicudo - Não, não tem.

GZM - Qual a participação da Amanco no mercado brasileiro?

Marcos Bicudo - Não tem uma medida oficial para o nosso setor. Dependemos muito dos dados dos fabricantes de resinas, do Instituto do PVC e da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico). Nós estimamos que a participação da Amanco esteja em 24%. Em 2006, tínhamos 19%. A Plastubos tem 8%, o que dá uma posição consolidada do grupo Mexichem de 32% no País.

GZM - E qual é a meta?

Marcos Bicudo - Nossa meta é a liderança no médio prazo, três anos, sendo conservador. Em 2008 queremos chegar a 27%.

GZM - Quais as ações para alcançar esse objetivo?

Marcos Bicudo - São três pilares estratégicos. O primeiro é ter uma marca reconhecida. No mercado brasileiro, ao contrário do que se possa imaginar, a marca exerce uma influência forte sobre algo que vai atrás da parede. Dois terços do consumidor — seja ele um profissional, um pedreiro, um encanador, um arquiteto — leva mais em consideração a marca ao adquirir um tubo ou conexão em PVC. Então é importante para nós, em primeiro lugar, ter uma marca reconhecida.

GZM - Quanto foi investido nessa estratégia nos últimos três anos?

Marcos Bicudo - Já investimos US$ 24 milhões. Em 2008, iremos aplicar mais US$ 11 milhões em mídia eletrônica.

GZM - Quais são os outros dois pilares para o crescimento?

Marcos Bicudo - O segundo é inovação. Este é um mercado carente de inovação. Em 2006 lançamos o Amanco PPR, um polipropileno para água quente, em 2007 trouxemos o Silentium, que são tubos para esgoto em edificações de mais alto padrão, e neste ano estamos focando um pouco a área de saneamento. Temos uma nova tecnologia, chamada Novafort, que são tubos corrugados para a rede de esgoto público com maior resistência e menor peso, o que facilita a aplicação.

GZM - Essas tecnologias são desenvolvidas no Brasil?

Marcos Bicudo - São todas desenvolvidas por meio de uma parceria tecnológica que temos com a Wavin, número um na Europa em tubos e conexões de PVC.

GZM - A compra pela Mexichem não trouxe tecnologia para esses desenvolvimentos?

Marcos Bicudo - A aplicação de tubos e conexões não era a especialidade deles. A grande oportunidade é que pela primeira vez vai se ligar a área de pesquisa e desenvolvimento de uma empresa transformadora à de uma produtora de resina. Aí sim criaremos oportunidades de inovação.

GZM - Qual é o terceiro pilar para crescer no Brasil?

Marcos Bicudo - O de serviços. Nossa estratégia é capacitar os profissionais, hoje um grande problema da construção civil brasileira. Temos, por exemplo, uma parceria nacional com o Senai, que oferece cursos em todos os estados brasileiros.

GZM - E quais os planos para a Plastubos?

Marcos Bicudo - A Plastubos só opera no Brasil. A base é Minas Gerais. É uma empresa regional que vamos expandir nacionalmente, com o intuito de ser a terceira do Brasil na área. Vamos focar a marca naquele um terço de consumidores que, ao chegar a um ponto-de-venda, mesmo conhecendo as marcas, está disposto a mudar se tiver uma boa oferta de qualidade e preço. Hoje não há nenhuma empresa, fora a Tigre e a Amanco, que tenha portfólio completo e esteja em todos os pontos-de-venda do Brasil. Existem 58 fabricantes de tubos espalhados pelo País, mas nenhum, fora estas duas, com presença nacional.

GZM - Como se divide o mercado de tubos de PVC?

Marcos Bicudo - O maior volume está em esgoto, em segundo água fria e em terceiro o PPR para água quente, que ainda é dominado pelo cobre. Nossa idéia é exatamente aumentar a pizza da resina plástica, trazer inovação para brigar com outras aplicações, não necessariamente com o próprio PVC.

GZM - Vocês pretendem focar em algum nicho ou padrão específico?

Marcos Bicudo - O mercado de tubos e conexões abrange basicamente três segmentos: irrigação, predial e infra-estrutura. No Brasil o predial, vale 75% do mercado. Se a empresa é líder no predial, consequentemente é líder de mercado. É aí que está o nosso grande desafio.

GZM - Como se divide a demanda hoje?

Marcos Bicudo - No mercado de construção, 83% está na autoconstrução, no volume formiguinha. É o consumidor que vai fazer uma lage ou criar mais um cômodo. Esse é o negócio brasileiro. A gente se ilude com os IPOs (oferta pública inicial de ação) e as grandes construtoras, mas representam 17% do mercado.

GZM - Não há uma tendência de inversão?

Marcos Bicudo - Os incentivos para o mercado formal são o crédito e os juros baixos. O Brasil agora é grau de investimento, tem menos risco, a construção vai andar bem. Indiscutivelmente. Mas a alavanca é a melhoria da renda. Cerca de 40% das famílias brasileiras ganha menos de dois salários mínimos. O déficit imobiliário brasileiro é de 8 milhões de residências. O que precisa é ou aumento de renda ou crédito fácil.

Marcos Bicudo - O faturamento da Amanco Brasil em 2007 foi de US$ 340 milhões, nossa estimativa é crescer em torno de 25%. A Plastubos tem alvos mais agressivos, por vir de uma base regional. O faturamento em 2007 foi de aproximadamente R$ 100 milhões, e o objetivo é crescer 40%.

GZM - Quanto essa operação de tubos cresceu dentro do grupo Mexichem, depois das aquisições?

Marcos Bicudo - Dos US$ 2,35 bilhões da Mexichem em 2007, US$ 1,12 bilhões é do Grupo Amanco. É o principal negócio da Mexichem hoje. A tendência é representar mais no futuro.

GZM - E as resinas?

Marcos Bicudo - Representam cerca de 32% do total do grupo. Tem mais 18% da fluorita, um mineral aplicado na produção de gases refrigerantes. A Mexichem detém a maior reserva mundial de fluorita. É 12% de toda a fluorita que está disponível no planeta. Todas as minas européias se esgotaram.

GZM - O Brasil está investindo em infra-estrutura e o saneamento deve crescer. O crescimento que vocês esperam para este ano vem disso?

Marcos Bicudo - O predial continua sendo o maior segmento, de 75%. Daí vem o nosso principal crescimento. Mas com o marco regulatório do saneamento, com os recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), já prevíamos essa oportunidade, e lançamos as novas linhas para esgoto. Mas tomamos essa decisão há 18 meses. O segmento de infra-estrutura ainda é subdesenvolvido na parte de tubos e conexões. Tem muito potencial. O investimento histórico do PIB em saneamento básico não chegava a 0.1%. Com os recursos do PIB ele vai a 0.2%, o que já é algo, embora o ideal seja 0.6%. É o que a ONU recomenda para países em desenvolvimento.

GZM - A Amanco tem capacidade para elevar produção?

Marcos Bicudo - Estamos trabalhamos com 75% da capacidade instalada, o que nos dá plena condição para suprir as projeções de mercado para 2008 e 2009.

fonte- Gazeta Mercantil.

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